
A amizade por uma pessoa começa do mesmo modo que o amor por uma casa. Casas contam histórias acontecidas ou por acontecer. A gente vê a casa e quer morar nela... A gente vê o amigo e quer morar nele. [E as cartas parecem alimentar esse contínuo desejo de continuar vivo dentro do outro].
Toma-se a carta e, com este gesto, toca-se uma mão muito distante. Para isto os amigos escrevem as cartas. Não para dar notícias [isso fazemos hoje por email, no celular, nas páginas de relacionamentos], não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel. Para isto escrevem os amigos.
O que as cartas desejam realizar está sempre antes e depois da palavra escrita: elas querem realizar aquilo que a distância não permite: o aperto de mão, o abraço amigo. As palavras da carta saem das mesmas mãos que um dia abraçaram o amigo, o motivaram a caminhar, o apoiaram na queda... O amigo que escreveu alonga seus braços para um momento que ainda não existe. Num telefonema a gente nunca diz aquilo que se diria numa carta. O telefonema exige respostas imediatas. A carta transmite coisas pensadas.
Fonte: Trechos de um livro do escritor brasileiro Rubem Alves, enviado-os a por um amigo, através de uma carta.
Fonte do 2º posts:
http://antoniomarcosaquino.blogspot.com/2010/10/para-isto-escrevem-os-amigos.html