
Tenho visto ao longo dos meus anos de juventude dois sentimentos em relação à providência divina: os que confiam nela absolutamente, sem deixarem de ser responsáveis e de fazer a parte que lhes cabe e, infelizmente, o sentimento de desespero, de dúvida, de intranquilidade e até de revolta quanto aos cuidados de Deus. Para alguns é difícil conciliar a ternura de Deus com tantas necessidades no mundo e nas suas vidas. E não sejamos precipitados no julgamento dos outros, mas, ao menos saibamos conhecer a realidade mais de perto. Ninguém se sente cuidado por outrem se não faz a experiência do amor. Também isso acontece na relação com Deus.
Muitas vezes nós dizemos amar a Deus e estarmos dispostos a tudo fazer por ele, “até de morrer”, mas quando somos provados no cadinho da humilhação, quando o emprego e o dinheiro desaparecem, quando nossos projetos humanos são não bem sucedidos, quando nos vemos em crise na família, no matrimônio e no amor, ou ainda quando uma enfermidade atinge a nós ou aos nossos, então nossa confiança na providência de Deus é também provada. No entanto, se Deus é primazia na vida, aprendemos dele a enfrentar as dificuldades, a não se abater com as necessidades, a não deixar que a penúria nos leve à revolta, muito menos permitir que a bonança nos iluda com sua falsa felicidade que tende a nos distrair da verdade fundamental de que “tudo passará, só Deus permanecerá”, diria Santa Teresa de Ávila.
Particularmente, tenho convivido com pessoas e famílias que têm tudo financeiramente, mas que impressionam a qualquer um quando se observa que não fazem do dinheiro um "deus mamona” nas suas vidas. Lutaram com honestidade para adquirirem o que possuem, mas transformam isso cotidianamente em instrumento de solidariedade, de generosidade e de serviço aos mais necessitados, e detalhe: fazem-no sem grandes alardes. Da mesma forma, conheço pessoas que, mesmo sendo profundamente religiosas e “assíduas no exercício da fé”, vivem como se fosse impossível conciliar fé e providência divina. Consequentemente, separam a fé da administração dos bens. Estes acabam não sendo instrumentos de serviço e até de salvação, mas de escravidão e perdição. E quem está isento desse perigo? O pior é que “deixamos tudo” par seguir o Senhor e acabamos nos perdendo no “simples copo de água”.
Deus cuida de nós, porque seu amor é fiel. E bem se sabe que contar com o cuidado de Deus não é nos debruçarmos no comodismo e no quietismo, achando que tudo virá de “mão beijada”. O “tudo” já nos foi dado: a vida, a fé, o próprio Cristo. E nesta vida corremos atrás de nossos objetivos: trabalhando, estudando, velando noites, cuidando da casa, dirigindo pessoas, administrando, limpando as ruas, servindo à humanidade, sendo úteis ao progresso e ao outro. Porém, vivamos nessa certeza fundamental: “não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 34). E acredito: tudo isso é a experiência do amor de Deus que cuida de nós porque é fiel!
Antonio Marcos
Fonte do Texto e Imagem do:
http://antoniomarcosaquino.blogspot.com/