Diamantes não se moldam, lapidam-se, limpam-se suas arestas, dá-se polimento, mantendo-se as suas características mais preciosas.
Os verdadeiros diamantes não são formatados ao bel prazer do mestre joalheiro, pelo contrário; é a maestria deste que faz com que perceba a forma final da pedra com a qual trabalha.
De um diamante, retiram-se os excessos, respeitando o núcleo da gema preciosa que se tem nas mãos. A forma já é pré-existente, é apenas estimulada a surgir em sua plena beleza.
Ao contrário de um vaso de barro, os diamantes não admitem ser moldados ao bel prazer do artista, afinando ou engrossando as suas paredes, acinturando ou dilatando o seu bojo.
O diamante já existe por si, não é fruto da manipulação de uma matéria prima disforme.
A argila, nas mãos de um brilhante oleiro, ganha formas magistrais; nas mãos de um artista, ganha cores e desenhos intrigantes, quando o barro é cozido, vitrificado, envernizado, etc, criam-se verdadeiras obras de arte de imensa beleza ou singeleza funcional.
O valor do vaso é fruto da perícia do artista, de sua habilidade em tornar a matéria prima bruta em um objeto de valor agregado.
Os diamantes, ao contrário, já tem seu valor por si mesmos, independem das mãos do artista para que tal valor exista. O que o artista faz é simplesmente extrair do diamante o melhor de si, tornando-o mais brilhante, polindo suas arestas, lapidando-o e incrustando-o em jóias delicadamente trabalhadas para receber a pedra preciosa.
Se, da argila, faz-se ao mesmo tempo vasos de fina porcelana ou rústicos e funcionais tijolos ou blocos, ou ainda, apenas se abandona num canto a matéria prima, até que se encontre utilidade para ela; dos diamantes não saem senão diamantes. Ninguém deixa um diamante descansando num canto,… antes se valoriza a pedra bruta que se tem nas mãos, trabalha-se sobre ela até extrair o máximo que sua beleza pode oferecer.
Vasos, por maior que seja seu valor e beleza, quebram-se, descascam-se, lascam-se, perdem a cor e o brilho…diamantes jamais se partem. Diamantes são eternos!
Podem ter seu brilho embotado pela poeira do tempo, as jóias onde estão incrustados podem partir-se, mas o diamante sobrevive, sua essência persiste.
Os seres humanos, em sua magnífica diversidade, são blocos de argila ou diamantes brutos. Reconhecer o que se tem nas mãos é tarefa que só pode ser plenamente desempenhada por quem tenha em si a capacidade de ver com olhos atentos.
Quando nos falta a sensibilidade e a perícia para perceber a diferença entre um e outro, muitas vezes procuramos pegar um diamante e tentar moldá-lo às nossas exigências. Ora, como um diamante não se molda dessa maneira, com essa facilidade, acabamos por confundí-lo com um pedaço de argila impuro, e o descartamos como algo de pouco valor.
Pessoas manipuladoras, via de regra, preferem trabalhar com argila, `a qual, com algum esforço, tornam úteis aos seus objetivos mais imediatos, moldando-a à seu bel prazer.
Já o mestre joalheiros, acostumados a compreender que a beleza vem de dentro para fora, precisando apenas ser desvendada, não tem pressa em seu labor, e não se importam se o diamante trabalhado, ficará ou não em suas mãos, o seu propósito, do mestre, é fazer brilhar a jóia, sua satisfação é a de realizar um trabalho bem feito, sabe que o fruto de sua dedicação não repousa nas vantagens imediatas que seu trabalho possa oferecer, e sim no brilho próprio da gema que passou por suas mãos.
Diamantes ou argila, oleiros ou mestres joalheiros, opções de papéis que podemos exercer em nossas vidas.
Quando assumimos o nosso papel, e deixamos de lado as opiniões, nem sempre isentas de interesse, de outras pessoas, passamos a caminhar pelo nosso próprio caminho, com o coração leve e sereno, livre dos falsos sorrisos e do peso de abrir mão de nossa felicidade para agregar os aplausos do mundo ou parte dele.
Nem sempre é fácil a caminhada, mormente diante de opções que nos façam escolher entre fazer parte dos vasos expostos em uma galeria, reproduzindo o que todos fazem, ser mais um entre outros tantos, recebendo o aplauso comedido dos iguais, ou preservar conosco os diamantes que a vida nos oferece, vez por outra, em sua forma bruta e que desistimos de lapidar, às primeiras dificuldades, ou por que não nos sentimos capazes de tal tarefa, ou por que não percebemos seu valor, ou ainda por que nos importamos demais com as aparências e com que os outros possam achar de nossa insistência.
Oleiros há muitos, não é preciso muito para se fazer tijolos, um pouco mais para se esculpir o barro. Mestres joalheiros são mais raros, mais especializados, assim como os diamantes são mais raros do que a argila.
Deus não põe diamantes nas mãos de oleiros para que sejam lapidados, se um diamante te cair nas mãos, saibas que tens a capacidade de lapidá-lo.
Não trate diamantes como argila! Saiba ver o seu brilho escondido; aprenda com ele, e por certo, ao mesmo tempo que lapidas a pedra, tua própria alma sofrerá as transformações necessárias para o teu próprio crescimento.
Mas, se desprezas o diamante, e a riqueza da experiência, preferindo ser barro ou oleiro, pode ser que , nunca mais, tenhas um diamante em tuas mãos.
Já, a argila…
Jorge Linhaça
http://amizadepoesia.wordpress.com/2008/01/11/diamantes-nao-se-moldam/